Em 1910, um brasileiro em missão do governo federal, passando pela cidade holandesa de Delft, perto de um cruzamento ferroviário, deparou com um curioso grupo de 20 crianças uniformizadas. Aproximando-se para informar-se melhor, descobriu que eram escoteiros franceses e obteve deles um folheto explicativo. O nome desse brasileiro era Mário Sérgio Cardim, e o interesse que esse acontecimento despertou foi tão grande que, imediatamente, ele se dirigiu à Inglaterra e, em companhia de Régis de Oliveira, foram a casa de Baden Powell, com quem conversaram sobre o escotismo. Cardim ficou na Inglaterra de 1º de junho a 4 de julho, quando dirigiu-se á França, onde manteve contato com o Capitão Royet, um dos introdutores do escotismo nesse país.
Após voltar ao Brasil, de dezembro de 1913 a junho de 1814, ele dedicou-se à divulgação do escotismo em São Paulo, proferindo 18 conferencia em 18 cidades, além de conseguir o apoio entusiástico de Júlio César Ferreira de Mesquita, diretor do “O Estado de São Paulo”. Também foi divulgada uma série de artigos neste jornal, e formou-se a comissão provisória, composta, além de Cardim, pelo Prof. Alcântara Machado e o Dr. Ascânio Cerqueira, que em 15 de agosto realizou a Reunião Preparatória para a fundação da Associação Brasileiras de Escoteiros, quando foram indicados os primeiros monitores, e designada a comissão encarregada de elaborar o anteprojeto do estatuto. Paralelamente, a campanha de divulgação surtia efeito, tanto que, na fundação da A.B.E, já havia 600 escoteiros inscritos. Ainda em 1914, foi publicado o “Esquema de Organização Técnica”, enviado a todas as partes do estado e do país. Assim, o Movimento Escoteiro conquista cada vez mais jovens no Estado de São Paulo.
Finalmente, em 29 de novembro de 1914, foi realizada a cerimônia de fundação da Associação Brasileira de Escoteiros, no “Skating Palace”, na Praça da República, N.º 59, das 14:00 às 17:00 horas. Nesta ocasião, com a presença de 450 escoteiros, foram aprovados os estatutos e eleito o Conselho Superior, com mandamento até 1919, constituído por aproximadamente 25 membros.
Mais tarde, esse conselho reuniu-se e elegeu a Diretoria, que ficou assim constituída:
Alcântara Machado – Presidente
Ascânio Cerqueira – Vice-presidente
Mário Cardim – Secretario Geral
C. A. Sampaio Viana – Tesoureiro
Inicialmente, a sede da A.E.B. foi instalada na Rua São Bento, n.o 61, mudou-se depois para a rua Formosa n.o 10. Simultaneamente, o trabalho continuava e, em 15 de novembro de 1915, 100 escoteiros realizaram as primeiras Promessas Escoteiras, Prado da Moóca, sob a assistência de 15.000 pessoas entre os quais Washington Luís.
Paralelamente, também sob a inspiração de Mário Cardim, era organizado o Escotismo Feminino. (Aqui cabe uma pequena nota: o Bandeirantismo surgiu depois, baseado nos mesmos princípios, e por bastante tempo os 2 existiram simultaneamente). Em 15 de janeiro 1915, na residência da Sra. Kathleen Crompton, posteriormente Instrutora Chefe , iniciava-se a Associação Brasileira de Escoteiras, sob a direção do Dr. Orlando Meira, tendo a D. Maria Guedes como Patrona. Em 1916 era realizado no Parque Antártica o primeiro compromisso das Escoteiras.
Em 1915, a A.B.E. já tinha representante em 6 Estados, sendo que no Rio de Janeiro foi iniciado o escotismo no Fluminense F.C. Ainda neste mesmo ano, em 1º de setembro, Mário Cardim realizou uma viagem a então Capital Federal, em companhia de 4 escoteiros uniformizados, sendo recebidos pelo Presidente da República, Venceslau Brás, pelos ministros e visitando os principais jornais.
Ainda neste ano, ele recebe uma carta de Baden Powell:
“Londres, 3 de Maio de 1915 – Acuso recebida vossa comunicação, relativa ao movimento Escoteiro nesse país, acompanhada dos Estatutos da A.B.E., folhetos de propaganda e esquemas de organização. Este último é particularmente interessante e denota vosso e vosso espirito de iniciativa. Faço votos pela continuação de vossa instituição, e envio-vos minhas cordiais saudações. Baden Powell” (Tradução de Mário Cardim)
Em 1916, foi organizada a primeira Escola de Chefes, sob a direção do Cel. Pedro Dias de Campos, que foi figura fundamental nesses primeiros dias, e que por muito tempo permaneceu na direção do escotismo da A.B.E. Também merece destaque, Benevenuto Cellini dos Santos, autor do “Ementário de Escoteiros”, livro de instrução técnica para escoteiros, e da letra de “Rataplan do Arrebol”, hino da A.B.E. ,e posteriormente, da U.E.B.
Em 11 de junho de 1917, por iniciativa do Deputado César Lacerda de Vergueiro, a A.E.B. foi reconhecida pelo Congresso Nacional , pelo Decreto Legislativo n.o 3.297.
Ainda sobre a figura desse período no escotismo, Mário Cardim, foi ele quem traduziu o lema “Be Prepared” para “Sempre Alerta”, e o termo “Scout” para “Escoteiro”. Em 13 de dezembro de 1947, ele recebeu o título de “Fundador do Escotismo Masculino e Feminino no Brasil” em cerimonia organizada por alguns dos primeiros escoteiros participantes do movimento, além de ser uns dos primeiros portadores do “Tapir de Prata” e Ter sido agradecido com a Ordem do Império Britânico.
O movimento expandiu-se bastante, tanto que na década de 20, chegou a haver cerca de 100.000 escoteiros. Logo após a I Guerra Mundial, foi notável a ação dos escoteiros durante o surto de gripe espanhola, que vitimou milhares de pessoas em São Paulo, quando prestaram diversos serviços auxiliares; em janeiro de 1921, começou a ser publicado “O Escoteiro”, informativo da A.E.B., que tinha a cada edição uma média de 30 paginas; em 1922, foi realizada uma homenagem ao Centenário da Independência, nos campos do Ipiranga, com presença de 10.000 escoteiros.
Nessa época passaram a ser realizados os “Raids Pedestres”, quando escoteiros percorriam grandes distancias a pé; foram realizados os “Raids” Nata – São Paulo, Recife – São Paulo, Salvador – São Paulo, Niterói – Belo Horizonte – São Paulo, São Paulo – Porto Alegre, entre outros.
Na década seguinte, escoteiros prestam serviços na Revolução Constitucionalista. Em 1932, a Associação de Escoteiros de São Paulo passa a chamar-se “Boy Scouts Paulista”. Os Pioneiros do Grupo atuam, então, na frente de batalha e hospitais de sangue, colaborando com a Cruz Vermelha. A bravura, heroísmo e eficiência receberam os mais altos elogios das sociedades internacionais e do próprio fundador, Baden Powell. Em 1940, o Estado Novo cria a Juventude Brasileira, de inspiração fascista, incorporando todas as organizações juvenis, por decreto, inclusive o Escotismo. A Boy Scouts Paulista, desentende-se com a Federação Paulista de Escotismo, negando-se a participar de atividades de cunho político. A pedido da Federação, o DOPS, uma entidade do governo, fecha a Boy Scouts Paulista, recolhendo todos seus equipamentos, móveis etc. O Chefe geral é detido, interrogado e liberado por influências de altas personalidades. Liberdade condicional. Foram dispensados todos os rapazes, mas alguns jovens e chefes continuaram a reunir-se clandestinamente, usando seus uniformes apenas no campo. Oficialmente reaberta, em 1942, a Boy Scouts Paulista passa a colaborar novamente com a já UEB, tanto no nível regional quanto no nacional. Voltando a ter influência internacional. A partir de então, começa a organizar e dirigir cursos para chefes em âmbito regional e nacional.
No dia primeiro de abril de 1947 falece Rodolfo Malampré. Em 1949, cabe à São Paulo a organização do primeiro curso de Insígnia da Madeira . Neste curso participaram os principais dirigentes da UEB, de algumas de suas regiões e de países vizinhos, servindo como ponto de partida para a adoção e introdução do “Esquema Internacional de Adestramento de Chefes” de Gilwell Park . O Acampamento Internacional de Patrulhas, comemorativo do 4º Centenário da Fundação de São Paulo, em 1953, foi idealizado, planejado e dirigido por escotistas da São Paulo, sendo elogiado até por órgãos internacionais. Em 1957 é aprovado por unanimidade o projeto de um de nossos escotistas chamado de “Adestramento”, na III Conferência Escoteira Interamericana, em Cuba. Este projeto serviu para consolidar o Esquema Internacional de Adestramento de Chefes de Gilwell, na América Latina. No período de 1950 à 1961, escotistas da São Paulo, comissários nacionais, exercem forte influência na adoção do P.O.R. (Policy, Organization and Rules), substituindo a colcha de retalhos que era o regulamento existente. Outra conseqüência desta mudança foi a desagregação da Associação de Escoteiros de São Paulo, os Grupos remanescentes se integram aos respectivos Distritos, e o Grupo Guarany, o mais antigo, fica com o nome e a incumbência de zelar por suas tradições passando a se chamar “1º Grupo Escoteiro São Paulo”.